quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vidas

Estou triste…mas hoje estou triste a sério.

Estou triste, não porque estou chateada com o trabalho, porque estou com a neura, porque estou paranóica, porque me apetecia mudar de vida….não! Estou triste com o mundo, ou melhor, com a injustiça desta vida, desta passagem que por aqui fazemos.

Estou triste pelos meus avós, pelos meus pais, pelos meus amigos....

Sou como tantos e tantos outros filha da guerra, nasci no pós 25 de Abril, numa família de raízes muito humildes, de trabalhadores agrícolas, os meus avós contaram-me muitas vezes como era quando iam à mercearia com senhas de racionamento, a minha avó começou a trabalhar com 6 anos de idade a “acartar” pedra, para a construção de estradas, passaram fome, passaram frio, nunca foram à escola…Mas lutaram, lutaram muito e conseguiram que o seus filhos tivessem uma vida uma pouco melhor…”aprenderam um ofício”, sim porque para os meus avós trabalhar no campo, ao sol, ao frio e à chuva, não era um ofício, era um trabalho…um muito duro trabalho.

Os meus pais trabalham desde os dez anos, o meu pai foi à guerra do Ultramar, a minha avó passados quase 40 anos, quando esse assunto é abordado, ainda se lhe enchem os olhos de àgua, a minha mãe ficou cá, já namoravam, durante dois anos não viveu, limitou-se a sobreviver para todos, todos os santos dias escrever uma carta ao meu pai, o meu pai veio, felizmente são e salvo, casaram e construíram uma vida…

Deram-me a possibilidade de estudar, de tirar um curso…tive uma infância e uma juventude muito, muito feliz, tive tudo o que queria, mas  sempre tive orgulho e consciência de onde vinha, que se hoje podia frequentar determinados locais, ter acesso a determinadas coisas a eles o devia…pessoas de trabalho, pessoas de carácter, pessoas empreendedoras que tinham construído uma vida…

Como os meus pais, muitos pais vieram de uma vida difícil, trabalharam muito e conseguiram melhorar de vida e depois veio este mundo, esta sociedade de merda, que lhes tirou tudo…hoje vejo os meus pais com idade de reforma (uma reforma miserável, porque nunca foram funcionários públicos, professores, médicos, enfermeiros), a ficarem doentes, deprimidos….gastos! Gastos por uma vida que foi e é muito cruel…

Estou infeliz, não estou revoltada! Estou a tentar perceber este mundo. Estou, com todas as minhas forças, a tentar perceber …porquê?

Porque têm estas pessoas, nesta vida que é tão curta, passar por isto?

Dói, tanto mas tanto olhá-los nos olhos e perceber que qualquer dia partem e que vida foi tão cruel com eles…

1 comentário:

  1. Com os meus avós o mesmo... com o meu avô foi começar a trabalhar aos 11 anos e aos 86 ainda trabalha porque a reforma é absurda. A minha avó sempre foi funcionária pública (professora) mas não teve direito aos 20 anos que leccionou em Angola, portanto tem metade de uma reforma. É uma merda.

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